domingo, 30 de dezembro de 2007

PATTI SMITH, "o rei lagarto"

Patti Smith nasceu em 1946, é poetisa, cantora e música norte-americana. Ela tornou-se conhecida durante o movimento punk com o álbum de estréia "Hourses" em 1975. Conhecida como "poetisa do punk", ela trouxe um lado feminista e intelectual á música punk e tornou-se uma das mulheres mais influentes do rock and roll.
Alguns anos atras ganhei de uma amiga um livro de poesia de Patti Smith chamado 'WITT', quando lançei meu segundo livro de poesia chamado "idiossincrásias" sempre recorri ao trabalho dela por considerar "absurdamente fantástico" e que certamente influenciou meus textos. Abaixo registro na íntrega um de seus trabalhos poético.
"nascida para ser. nascida para ser eu. apenas os óculos escuros exactos.
o poder de imagem. trata a córnea como uma jóia.
safira seurat cintila. deixa a visão penetrar. luz de flash invertida.
e apagada.

reduzida a zero antes que seja tarde. pára-quedas.
como o berber nómada. então não acampes por aqui mais tempo.
nem um sinal. instamatic travesti.
o olho esfomeado.

movimento contínuo. via fiat. a pé. a grande clube
canal caminhado. no congo. chama rimbaud. testemunha
o alvo irritado de pássaros loucos. esmaga os seu
elmos micro-azuis. cobalto metabólico.

pinta o meu cavalete sem tela em estilo matisse. um truque estilístico.
um retrato respirante. leopardo sagrado. deixar cair a minha pele-de-gato

é preciso correr. deslizo à superfície. patinagem sobre gelo.

barrete. talvez o céu. pássaro-alvo. se for
o verdadeiro dossel. constrói o grande trampolim.
tentarei o estrondo.

bong. pode ser feito. fómula olímpica?
linguagem a la McClure, o balanço intrincado de Belmondo.
a confusa graça de buster Keaton. o movimento óptico de anna karina
uma rodilha de seda. estrela polar. nunca se dever perder um oportunidade.

dispara essa arma de compasso de febre.
um risco é apenas um risco."

-patti smith- "witt" - 1978

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Fiz uma 'ponte' com a "dupla dinâmica"


Olha essa dupla - me perdoem os mais exigentes, mas eu adorava 'batman e robin' - e nós não somos meio que assim na vida: sempre 'defensores', hora da corrupção, dos medos, das falácias, dos engodos políticos, dos traumas...isso da uma poesia:
curtas e boas
somos fadados
a fados
cantados
em solo errado
mera displicência
também somos
de carne crua
hora atirados nas ruas
indefesos
presos
sob o olhar de quem
não tem apresso

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

"A ASA ESQUERDA DO ANJO"

Lembro como emocionava-me com as leituras feitas ainda na adolescencia, de LYA LUFT - "A asa esquerda do anjo" foi algo assim quase que como uma 'catarse' para uma menina que sonhava com relações perfeitas e intermináveis - quanto 'aquilo' me fez efeito que li quatro vezes, e a cada leitura sempre com a mesma emoção; claro não posso deixar de citar: "Quarto fechado", "Reunião de família", "O exílio", "Perdas e danos" (me perdoem se não estiverem na ordem) - Lya Luft, sua sensibilidade em relatar "as nuances" da mulher, da mãe,da solteira, da velha, da menina - eu admiro-a por demais, é uma de minhas escritoras (gaúchas) prediletas - por favor apreciem essa:

CANÇÃO NA PLENITUDE
Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
buscar te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força - que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés - mesmo se fogem - retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

(trecho do livro "Secreta Mirada",LYA LUFT, Editora Mandarim - São Paulo,1997,pág.151).

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

FANTASMAS - de Anne Sexton


Lendo Sylvia Plasth, inevitavelmente acabei conhecendo os "delírios poéticos" de Anne Sexton (contemporânea de Sylvia) e não poderia deixar de transcrever seu trabalho. Sim tenho atração por escritoras suícidas...rsrsrsr
Anne Sexton (Anne Gray Harvey) nasceu em Newton, Massachusetts, em 1928. Começou a escrever poesia numa escola em Lowell, para onde foi enviada em 1945. Em 1953, foi mãe pela primeira vez. Em 1955, depois do segundo filho, iniciou um tratamento para a sua depressão, que vinha se agravando nos últimos anos. Tentou suicidar-se algumas vezes. Em 1967, recebeu o prêmio Pulitzer pelo livro Live or Die (1966). A sua popularidade e reconhecimento foram crescendo ao longo dos anos, como poeta e como dramaturga. Em 1973, depois do divórcio, aumentaram os problemas de solidão, alcoolismo e depressão. Suicidou-se em outubro de 1974, asfixiando-se com monóxido de carbono na sua garagem.

Fantasmas
Alguns fantasmas são mulheres, nem abstratas nem pálidas,
seus peitos tão flácidos como peixes mortos.
Não bruxas, mas fantasmas que vêm,
balançando seus braços inúteis como empregados descartados.

Nem todos os fantasmas são mulheres,
tenho visto outros; homens gordos de brancas barrigas,
desgastando seus genitais como trapos.
Não demônios, mas fantasmas.
Na batida do pé descalço, arrastando-se sobre minha cama.

Porém isso não é tudo.
Alguns fantasmas são crianças.
Não anjos, mas fantasmas;
ondulando como xícaras rosadas
em qualquer almofada, ou esperneando
mostrando seus traseiros inocentes,
lamentando para Lúcifer.
Tradução Priscila Manhães - edita o blog ÍNTIMA LOUCURA
Foto: 'Equivalência Femininas' por Filip Naugts

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

'quando NIETZSCHE chorou'

Aos vinte poucos anos lia NIETZSCHE como quem "lambe" um delicioso sorvete, deliciava-me com sua poesia(porque ele também foi capaz de ousar em cria-las) pois acredito que para termos um bom entendimento de livros filosóficos, como agora nesse momento de minha vida, devemos antes apreciar, devorar,exercitar uma boa poesia - porque ela nos eleva o espírito...abaixo segue duas poesias que escolhi do criador de "Zaratustra" - e não será o 'homem' um 'super-homem quando' 'permite-se' ousar, seja no que for???!!!

MINHAS ROSAS
Sim! Minha ventura quer dar felicidade;
não é isso que almeja toda ventura?
Desejais colher minhas rosas?
Abaixai-vos, ocultai-vos,
entre rochas e espinheiros,
sugai muitas vezes os dedos.
Posto que minha ventura é maligna,
porque minha ventura é pérfida.
Queres apanhar minhas rosas?

INTREPIDEZ
Onde estiverdes, cava fundo,
a fonte fica embaixo.
Os homens sombrios que gritem:
"Embaixo sempre fica o inferno".
Nietzsche - A Gaia Ciência - Ediouro -edição 1991

"criaturas minhas" de Célia Maria Maciel

Poesia para quem aprecia: destaco então 'Célia Maria Maciel'

"Tenho dó de quem me ama porque
em mim ama a tristeza cansaço isolamento.
Ama a cegueira quase breve a réstia menino
que foge correndo sobre a relva.

E eu só posso dar a quem me ama
essa estrela do tamanho de um bonde
que ontem os cientistas descobriram
essa estrela-diamante -
quer dizer - eu só posso dar o
brilho da poesia ainda nova e distante."
'CRIATURAS MINHAS' -Célia Maria Maciel. WS editor.Porto Alegre.1999

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Tenho muitos gostos, e desgosto ehehe...mas primo pela boa e original poesia e entre tantos lembro sempre infinitamente de SYLVIA PLATH QUE experimentou dos sentido e da emoção - por sua próprias palavras "penso que a minha poesia seja fruto da experiência de meus sentidos e das minha emoção,mas devo dizer que não posso ter simpatia por aquele 'grito do coração'(...).Creio que se deva saber controlar as experiências, até as mais terríveis, como a loucura, a tortura(...).e se deva saber manipular com uma mente lúcida que lhe dê forma(..)" - Então para abrir meu blog escolhi esse poema abaixo:

ESPELHO
Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo no mesmo momento
Do jeito que é, sem manchas de amor ou desprezo.
Não sou cruel, apenas verdadeiro.
O olho de um pequeno deus, com quatro cantos.
O tempo todo medito do outro lado da parede.
Cor-de-rosa, malhada. Há tanto tempo olho para ele
Que acho que faz parte do meu coração. Mas ele falha.
Escuridão e faces nos separam mais e mais.

Sou um lago, agora. Uma mulher se debruça sobre mim,
Buscando em minhas margens sua imagem verdadeira.
Então olha aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e a reflito fielmente.
Me retribui com lágrimas e acenos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã seu rosto repõe a escuridão
Ela afogou uma menina em mim, e em mim uma velha
Emerge em sua direção, dia a dia, como um peixe terrível.
-poemas - SYLVIA PLATH - ed.Iluminuras/1994.